quinta-feira, outubro 12, 2006

entre paredes

vais fugir do chão, salvar a cadeira do naufrágio, declarando as mãos à mesa para não fazeres feridas de guerra com os estilhaços do teu sorriso.
vou procurar-te, mas a grande angular que trago, não vai revelar a fotografia do futuro que não encontrei.
recrio a maneira de rever, curando a miopia dos sonhos que me acordam sempre aos teus pés.
como se alguma vez tivesse tido medo.
entretanto, Deus já morreu, desabitando os acasos onde nos encontrámos.
despedi-me dele, e escrevi o prólogo num papel que tenho atado ao pulso.
mas ando há tanto tempo para dançar contigo e só te encontro quando não te encontro...
tento escrever em branco, espetando a ponta dos dedos no écran, onde desenho círculos eternos até desaparecer tudo o que sou.
e que assim ficasse tudo feito.
mas os segundos insistem enganados a entrar pelas portas que abro atrás de ti.
o teu sorriso leva-me à loucura e cerro os olhos para não chorar.
não quero saber, perto ou longe. basta-me o contrário, a evolar.
mesmo quando passo à porta da tua casa.
perdoo-me a falta de sintaxe sentimental, assassinando o que resta do coração e justifico-te:
- são saudades, se tudo o que não damos apodrece dentro de nós.
peneiro os pedaços fragmentados que encontro e na janela,
penduro um espanta espíritos cor de mel que denuncie qualquer raio que se aproxime.
o coração refila, e torna a refilar, desdobrando-se num sopro que se medica, e na vida guardada nas gavetas adiada, para dias melhores.
perdi o que não posso.
no entanto, ainda espero a luz maviosa.
na matemática mitral permanecemos no exacto lugar.
ficas mais feliz por to dizer, eu sei.
conforto-me, ao menos que aproveite alguém.
toda a gente se engana.
eu, trago uma bomba ao peito.

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