domingo, agosto 13, 2006

sete horas e um quarto de existir

Em todas as noites, existe uma fracção de segundo em que penso se serei capaz. De tudo e qualquer coisa. De entender, de chegar, de executar, de saber. Em todos estes segundos, que podem demorar mais ou menos tempo, há alguém, aqui ou lá, por palavras ou memórias, que acusa qualquer coisa que me faz lembrar. E há noites, em que são os outros que me perguntam se serei capaz...sem maldade, por curiosidade... Não sentia esta fragilidade lá. Pelo menos desta forma, pelo menos tanto, sabia o meu papel na sociedade. Não sei se sair do ninho que não está feito, nos torna mais ou menos qualquer coisa. Mas a consciência plena dos nossos actos, e para onde vamos, ganha uma dimensão quase lógica se pararmos para discutir qualquer perspectiva jurídica, se levantarmos uma lupa sobre a nossa pequena existência, e quisermos ser mais qualquer coisa além do correr dos dias. Neste "grande" universo de juristas, supstamente ao serviço da RAEM, perguntam-nos, o que fazes aqui? Normalmente as respostas traçadas pela nossa experiência e caminho de vida, são mais existencialista, e menos pelos valores que executamos sete horas e um quarto todos os dias. Mas se pararmos, e nos obrigar-mos a pensar...viemos fazer alguma diferença? Viemos por nós, sempre por nós, mas nós vamos além do corpo que cuidamos, da indumentária, dos desejos das pequenas trivialidades? Se o trabalho dignifica as pessoas, não deveria ser aí a concentração do nosso esforço? Perceber a dinâmica própria deste pequeno ponto capital, olhar para a história e refaze-la o melhor possível, sermos mais pelos outros para quem trabalhamos?
A minha primeira resposta é não nos deixam. A minha segunda resposta, depois de me perguntarem porque vieste para cá, é porque somos inconscientes.
Seja porque motivo for, se viemos e cá estamos, o nosso melhor é o que devemos emprestar. E nosso melhor, obriga-nos aqui, a ser mais inteligentes, mais responsáveis, mais cientes da posição delicada em que estamos quando nos pedem para legislar, quando nos pedem para contribuir, quando nos pedem para fazer o que não deixámos feito.
O nosso pequeno papel contribui sempre com uma diferença. O que fazemos com ela, não sei.

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