terça-feira, agosto 08, 2006

DA SORTE E DO AZAR...

Há pouco tempo vi Match Point de Woody Allen. Comecei a ver sem grandes expectativas mas no final gostei imenso e, na minha opinião, dá que pensar.
Gostei do filme por várias razões. Gostei do desempenho da maioria dos actores, gostei do ambiente very british (sem esquecer o respectivo sotaque!!), e da história em si. Ou antes, da forma como está exposta, clara, simples e despretensiosa.
Porque é que nos pode fazer pensar? Na minha perspectiva, resume-se ao facto da vida ser um constante Match Point. Ora, dá-se o nome de match point, muito brevemente, ao ponto que pode dar a vitória num jogo de ténis. E é aqui que reside o paralelismo. Constantemente, somos confrontados com decisões e o resultado dessas decisões tem sempre um de dois lados, ou corre como pretendemos ou não.
Mas a principal razão pela qual gostei do filme foi pela perspectiva de que, tal como no jogo, o resultado da nossa “jogada”, desta feita a nossa vida, tem uma decisiva percentagem de um factor que nos escapa na totalidade... a Sorte. E, se olharmos à nossa volta, encontramos sempre alguém que tem ou não aquela sorte.
Temos um pouco a tendência para nos lamentarmos de quase tudo mas, provavelmente, porque temos tempo e disponibilidade mental para tal. Mas, por vezes, e em vez de nos queixarmos, não devíamos ver também a sorte que temos? E não estou a pensar nos males que assolam o mundo estilo discurso Miss Universo, mas sim numa outra realidade bem mais perto de nós e que muitas vezes nos escapa, um outro lado de Macau.
De manhã, todos os dias vejo umas pessoas, no jardim perto do antigo Tribunal, a dormir nos bancos. Quase todos ocupados. Não sei se são sem-abrigo, se são pedintes, ou ressacados. O facto é que de manhã aquelas pessoas, em regra de pés descalços sujos, estão a dormir nos bancos do jardim. E as velhotas marrecas que se andam a arrastar pelas ruas a recolher cartão. E o senhor de traje tradicional todo preto, que anda na Praça do Leal Senado a empurrar um carro de rodas que deduzo eu conter tudo o que aquele homem possui. Quase todas estas pessoas são idosos, e pobres.
Por alguma razão em Macau consegue-se uma refeição por quinze patacas...
E as “acompanhantes” que andam nos corredores do Lisboa, ou nas ruas circundantes, acredito que não andam lá todas por gosto...
E as empregadas filipinas, provavelmente se tivessem outra sorte, algumas não se sujeitariam aos riscos que implica estarem em Macau.
É que existe este outro lado que as luzes dos casinos e das joalharias ofuscam e por vezes, talvez por estarmos do lado dos que têm menos azar, nos escapa...
No verdadeiro sentido e esplendor Macau é terra da sorte e do azar.

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