«Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém,num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a thographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.»
Texto publicado originariamente em "Descobrimento", revista de Cultura n.º 3, 1931, pp. 409-410, transcrito do "Livro do Desassossego", por Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa), numa recolha de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, p. 16-17. Respeitou-se a ortografia da época de Fernando Pessoa.
Em nome da Minha língua é a rubrica que hoje inauguro.
Porque prezo muito a minha língua (a 6.ª mais falada no mundo) mas, sobretudo, porque a descubro e redescubro continuamente.
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