terça-feira, outubro 31, 2006

à porta do mundo...uma vez mais

uma vez mais me encontro sentada neste lugar aos pés do mundo, sentada do lado de fora da porta do céu.. dos teus olhos. Já te disse que quando saio de perto de ti me sinto à porta do mundo...e do lado de fora tudo é desolação, e tu és tudo o que existe e eu sou só amar-te! E concentro-me em cada respiração, puxo o ar para mim, afasto-o de mim, converto-me em mero sopro e assim vivo. E em cada sopro sinto-te a ti, engulo-te aos pedaços e nunca te chego ao fim. Sigo cantando para encher o espaço, como se declamasse um poema e tudo o que digo fosse desprovido de sentido, canto para exercitar a voz submissa e para dar uso às palavras acumuladas em léxicos, para lhes encontrar outros sentidos que não aqueles que lhes conheço. Canto para cansar os átomos do meu ser a mais. Desprovida de tudo, em excesso de tudo. Do lado de fora da porta há um deserto e tudo é 40 graus. À porta do teu mundo não se vislumbra ponta de vida, a terra secou e o areal perde-se no olhar.. tudo é árido e desolação, tudo é seco e queima. Aos pés do mundo, vislumbram-se memórias do passado atrás dessa porta sempre fechada, espreita-se o futuro na fechadura. O pó acumula-se na garganta, cresce uma bola de fumo e em pouco tempo ardemos. Em cinzas caminhamos, perdemo-nos semeados no deserto e a esperança morre connosco em tudo o que não fomos. Morre a água do sonho, gota a gota, lentamente, numa agonia estridente que nos arremessa de encontro ao passado, caminhantes condenados a transportar nos pés a areia do mundo, corações esmiuçados debaixo das unhas e ao peito a dor de ter sido parido, a dor de ser filho desamado do amor.

1 comentário:

Anónimo disse...

à porta do mundo e de ti. à porta de casa, à porta do carro, à porta do beijo. mais uma vez. à porta da vida.
a última prometo-me.
farta de morrer.