quarta-feira, setembro 06, 2006

a chuva chove chovendo

Chove lá fora e Macau dissolve-se entre os prédios difusos, sob um fogo-de-artifício igual ao da noite passada. Nem os trovões abanam as gentes, nem me emociono de lágrimas, pelas as estrelas e raios efémeros que nos andam a colorir o céu. Hoje prefiro que o céu me caia na cabeça para acompanhar a ronha no sofá. Ou me acordar a meio da noite para me acompanhar o cigarro na varanda, enquanto escorro pela água por aí. Não era assim, lembro-me. A pele seguia a alma que seguia o coração. Agora só eu dou por mim.
E estupidamente é assim que se tenta aprender a ser feliz. Com todas as contradições. Não parece mas é. Endurece-se de um lado, e vive-se a dádiva da vida do outro. Mesmo que a alegria de ver o céu brilhar sorria só lá no fundo do coração, ainda damos por ela. Silenciosa mas viva. Quase inerte, mas respira. Hiberna, como me sinto hibernar por dentro, e viver à distância por fora, a distância de um sorriso, de um motivo para os dias que se somam. Sigo com a alegria da chuva, com os pés na água, sem ninguém reparar. Breves instantes, nada cola ao futuro. Mas acho que somos mais assim, calados para fora, únicos mestres da nossa visão, do nosso tacto, guardiões de nada, a hibernar. Ou a proteger. O quê não sei. Já eu, guardo a resposta. Não posso dizer que é segredo. É arte. É sobrevivência a esticar-se mais além. É aprender a não levar a vida tão a sério, e antes, levarmo-nos nós a sério. É não contar com planos nem futuros, que os meus, já os perdi três vezes em quinze dias. E ir sendo. Cada dia. Uma outra coisa qualquer. Só para nós. À distância.

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